domingo, 10 de novembro de 2013

Síndrome do Pânico

O que é síndrome do pânico?

As crises, que envolvem taquicardia e a sensação de morte iminente, são consequências da ansiedade patológica

 
                                           "O Grito" (1893) de Edvard Munch
O ar parece faltar, o coração fica acelerado, o suor empapa a roupa. Esses são apenas alguns sintomas de uma crise de síndrome do pânico, também caracterizada por boca seca, tremores, tonturas e um mal-estar geral, acompanhados pela sensação de que algo terrível irá acontecer. A pessoa sente que pode morrer ou enlouquecer nos minutos seguintes.

Esse transtorno é causado pela chamada ansiedade patológica. De acordo com os psicólogos, a ansiedade é um estado emocional natural, e é completamente normal o sentimento de querer antecipar o futuro para evitar perigos ou tentar controlar danos. O problema fica caracterizado quando essa ansiedade começa a causar sofrimento demais para a pessoa. A preocupação culmina nas crises, e a pessoa fica ainda mais ansiosa porque não sabe quando a próxima irá acontecer.

Geralmente, a síndrome do pânico acontece no começo da vida adulta, e aparece em situações de estresse, como pressões no trabalho, no casamento ou na família, em que a pessoa se sente desamparada. O transtorno é de duas a quatro vezes mais frequente nas mulheres, mas também pode ocorrer com sinais semelhantes nos homens. É claro que um único episódio de crise de ansiedade não caracteriza a síndrome do pânico, mas crises repetidas levam ao desenvolvimento do transtorno.

A maioria dos pacientes passa por vários médicos de especialidades diferentes em busca de uma resposta e do tratamento para tamanha ansiedade, sem saber ou, às vezes, aceitar, que tantos sintomas físicos sejam proveniente de problemas emocionais. Felizmente, o transtorno tem tratamento e, quanto mais precoce o diagnóstico, maiores são as chances de recuperação. Cada caso é especial, mas geralmente a pessoa é tratada com sessões de psicoterapia e medicamentos. Ela já começa a melhorar entre duas e quatro semanas, mas geralmente leva um ano para se recuperar. Raramente há cura espontânea e, apesar de muitas pessoas ainda colocarem em xeque a relevância de complicações psicológicas, a síndrome do pânico deve ser tratada como doença. Caso contrário, pode levar a complicações ainda maiores: depressão, desenvolvimento de outros transtornos de ansiedade, e abuso de álcool e/ou de sedativos, com prejuízos para a vida profissional, social e familiar.
 
fonte: Site Scientific American Brasil

sábado, 9 de novembro de 2013

TDAH

Os sintomas e o diagnóstico da hiperatividade


O Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Psiquiátricos, conhecido como DSM-IV (sigla em inglês), apresenta um conjunto de critérios detalhados e bastante complicados para diagnosticar o TDAH. O DSM-IV lista duas categorias diferentes de possíveis sintomas. A categoria A inclui nove sintomas sob o título de Desatenção. A categoria B também inclui nove sinais de Hiperatividade-Impulsividade. Para serem utilizados em um diagnóstico, os sintomas em questão devem "estar presentes por pelo menos seis meses em um grau que é prejudicial e inapropriado para o nível de desenvolvimento" [fonte: CDC (em inglês)]. Os indícios de desatenção incluem dificuldade para ouvir instruções e organizar, além de parecer distraído e ser esquecido. As pessoas que são hiperativas ou impulsivas podem falar ou gritar em momentos inapropriados e atrapalhar os outros.

Crianças hiperativas podem ter dificuldade em se manterem paradas.
© istockphoto.com / Mariya Bibikova
Crianças hiperativas podem ter dificuldade em se manterem paradas
Existem três tipos de diagnósticos possíveis para o TDAH. Os nomes diferentes refletem a natureza dos sintomas do paciente. TDAH, Tipo Predominantemente Desatento significa que o paciente apresentou sintomas da categoria A por seis meses. TDAH, Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo se refere a pacientes que apresentaram indícios da categoria B por seis meses. Por fim, TDAH, Tipo Combinado é para pessoas que apresentaram sinais das duas categorias por seis meses.


Vamos dar uma olhada de perto nos tipos de TDAH e nos sintomas associados a cada um deles. Uma criança do Tipo Predominantemente Desatento pode ter dificuldade para finalizar tarefas, prestar atenção em instruções e manter o foco na sala de aula. Ela também pode parecer cansada ou sonhadora com frequência. Essa variação pode ser mais difícil de ser reconhecida, porque os sinais são menos evidentes do que os de outro tipo. Geralmente esse não é o caso de crianças do Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo, que costumam apresentar energia constante, não conseguem permanecer paradas e precisam ficar ativas o tempo todo. Crianças impulsivas não controlam ou pensam sobre suas ações ou declarações. Aparentemente, irão fazer coisas sem pensar, como realizar comentários inapropriados. Uma pessoa do Tipo Combinado de TDAH pode apresentar qualquer um dos sintomas mencionados acima.
O diagnóstico geralmente é realizado por um pediatra, neurologista, psicólogo ou psiquiatra. Professores, que trabalham próximo de várias crianças e que provavelmente têm experiência em lidar com TDAH, costumam auxiliar na descoberta de casos prováveis do transtorno. Eles podem ajudar a monitorar os jovens e discutir questões em potencial com os pais. Muitas escolas também exigem que os professores preencham formulários de avaliação, que podem ser examinados por um profissional que realiza o diagnóstico da doença.
Além de pedir informações para professores e pais, o responsável pelo diagnóstico pode observar o comportamento da criança durante situações que exijam controle e disciplina. O médico verá como os comportamentos prejudiciais afetam a vida e os relacionamentos da criança, quando eles ocorrem, há quanto tempo os problemas estão presentes, outros fatores complexos (como outros problemas associados) e a situação em casa. Embora vários tipos de mapeamentos cerebrais e ressonância magnética tenham sido utilizados no estudo do TDAH, os especialistas não usam essas técnicas no diagnóstico do problema. Quando uma criança é diagnosticada, ela geralmente recebe tratamento e depois é reavaliada e monitorada durante os anos.
O TDAH pode ser diagnosticado de forma errada porque muitas crianças apresentam alguns dos sintomas do transtorno, embora não possuam realmente a doença. De maneira semelhante, os indícios podem ser causados por outro distúrbio ou por um problema pessoal ou social. Os vários tipos de TDAH também podem fazer com que alguém interprete errado ou não perceba os sintomas. Uma criança impulsiva, incontrolável e hiperativa irá atrair mais atenção do que uma que é quieta, distraída e distante, embora as duas possam estar sofrendo de déficit de atenção e hiperatividade.
Os sintomas de uma criança podem aparecer apenas em alguns ambientes, como quando ela está na escola. Neste caso, pode não ser TDAH. O National Institute of Mental Health (Instituto Nacional de Saúde Mental) declara que os sintomas devem afetar negativamente a vida em mais de um ambiente para serem considerados hiperatividade.

http://saude.hsw.uol.com.br/hiperatividade2.htm


TDAH em adultos e problemas relacionados


Muitas crianças com TDAH apresentam outros problemas, alguns moderados e tratáveis, outros mais graves. Pessoas com o transtorno apresentam um nível mais elevado de dependência de substância e são mais suscetíveis a sofrer ferimentos, particularmente como um resultado da hiperatividade ou comportamento desatento. Uma pequena porcentagem de casos da doença em adultos é acompanhada pela síndrome de Tourette. Já nas crianças, de 33% a 50% apresentam transtorno desafiador de oposição [fonte: NIMH (em inglês)]. Mais comum entre meninos do que meninas, ele é caracterizado por uma atitude argumentativa, difícil e incontrolável.

O transtorno de conduta é encontrado em 40% dos jovens com TDAH. O Instituto Nacional de Saúde Mental afirma que esse é um problema muito importante e que gera comportamentos potencialmente perigosos, em que as crianças podem brigar, mentir, roubar ou realizar outras ações arriscadas ou ilegais [fonte: NIMH (em inglês)].



acidentes de carro
© istockphoto.com / Milan Klusacek
Adolescentes com TDAH estão mais propensos a se envolverem em acidentes de carro

Crianças com TDAH muitas vezes têm problemas na escola, uma situação que é ainda pior para os 20% a 30% que apresentam um problema de aprendizagem, como dislexia ou dificuldade de se expressar [fonte: NIMH (em inglês)]. O estresse de lidar com esses e outros problemas relacionados com o transtorno pode incentivar o desenvolvimento de ansiedade e depressão, embora um tratamento apropriado possa ajudar a evitar isso. Algumas pessoas que sofrem de TDAH também apresentam transtorno bipolar. Ambas podem apresentar sintomas parecidos.



O TDAH e os sintomas relacionados não desaparecem simplesmente quando a criança se torna adolescente. É durante essa fase que os problemas causados pelo transtorno podem criar as maiores dificuldades. Por exemplo, motoristas adolescentes com a doença têm muito mais probabilidade de se envolver em acidentes de carro [fonte: NIMH (em inglês)].

Muitas pessoas "se livram" do TDAH quando entram na fase adulta. Porém, até 70% dos que a tiveram quando crianças também apresentam o distúrbio na fase adulta [fonte: NIMH (em inglês)]. Cerca de 5 milhões de adultos nos E.U.A. podem sofrer com a doença, mas não foram diagnosticados [fonte: ADDitude (em inglês)]. Algumas dessas pessoas que não foram diagnosticadas podem suspeitar de que algo está errado ou atribuir os problemas a outras causas, que podem incluir dificuldade de concentração, vários acidentes de carro, depressão ou ansiedade.

Para diagnosticar o TDAH em adultos, os especialistas procuram por sinais de que os sintomas se desenvolveram cedo durante a infância e que não são manifestações de outros problemas. Assim como as crianças, eles recorrem a uma combinação de terapia e medicamentos para se tratar, embora tomem antidepressivos com mais frequência do que as crianças. Alguns adultos têm receio de confrontar o transtorno com o medo da maneira como o tratamento pode modificá-los. Eles também podem associar o TDAH que possuem à criatividade ou impulsos artísticos. Porém, existem vários testemunhos de pessoas diagnosticadas na fase adulta que receberam tratamento e perceberam uma melhora imensa nas suas vidas, principalmente na capacidade de organização e finalização de tarefas.

http://saude.hsw.uol.com.br/hiperatividade4.htm

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Psicoterapia

Existem momentos em que a vida fica sem sentido... as pessoas ficam sem graça... o tempo parece não mudar...
entretanto.....
nós podemos mudar o sentido da vida e descobrir a graça nas pessoas....e acreditar que o tempo pode estar a seu favor!





CONTARDO CALLIGARISO que é um psicoterapeuta?
Volta e meia, me perguntam: "Por que pagar a um profissional, se posso conversar de graça com o pastor ou com a mãe-de-santo? Não é lógico que os amigos do peito me entendam melhor que um desconhecido? Qual é a diferença entre um psicoterapeuta e um padre que escuta, aconselha e pode nos absolver dos pecados? ".

A diferença é simples: o psicoterapeuta é formado em (alguma) psicoterapia, os outros não. Os interlocutores insistem: formado como?

Aqui, uma distinção. Algumas terapias, como as comportamentais (especialmente eficazes na cura das fobias), requerem do terapeuta que aprenda e treine exaustivamente técnicas que possam mudar a conduta que atrapalha o paciente.

Outras terapias intervêm na dinâmica das motivações conscientes ou inconscientes de quem sofre (a psicanálise é uma delas). Aqui a formação pede que o terapeuta se submeta ao mesmo processo que é proposto a seus pacientes. Mais: pede que, de alguma forma, ele permaneça sempre nesse processo. O psicanalista, por exemplo, não pára de analisar-se. É uma precaução: tenta-se evitar que interfiram nas curas motivações do terapeuta que ele mesmo ignoraria. Mas há outra razão: o entendimento das motivações dos outros é proporcional ao entendimento de nós mesmos que temos a coragem de encarar. O terapeuta é como um cirurgião que, ao operar, praticasse uma vivissecção em seu próprio corpo para reconhecer melhor os órgãos internos do paciente.

Volto às perguntas iniciais. Claro, são pequenas investidas que evocam as declarações de amor do jardim-de-infância, quando puxávamos o cabelo dos colegas para que nos dessem atenção. Essa maneira infantil de provocar ou ferir o outro para lhe oferecer e pedir amor tem futuro. Aflige o adolescente para quem decepcionar os pais é o jeito de esconder (e dizer) um afeto do qual ele se envergonha, porque confirmaria sua dependência. E há casais que vivem na guerrilha, ambos transformando sua dificuldade para demandar amor ou para ser amados num cotidiano de ataques mesquinhos.
Quase sempre a coisa começa com um drama nos primeiros anos de vida: um pai que manifesta seu cuidado só xingando ou uma mãe que acaricia com a esquerda e bate com a direita. Sobra uma incerteza nefasta: qual é a prova do amor, carinho ou chicotada (real e metafórica)?
Ora, posso ler essa interpretação banal num livro ou numa coluna de jornal. Mas só a "conheço" porque, durante anos, tentei entender como era possível que, na infância, eu acordasse pasmo e angustiado com sonhos em que era atormentado por adultos sorridentes.
Esse exemplo é benigno. Qualquer terapeuta está disposto a encontrar dentro de si inquietações mais turvas e cicatrizes mais supuradas. Pois desses encontros depende sua capacidade de escutar.
Keith Ablow é um psiquiatra e terapeuta de Boston, EUA. Escreve romances que já comentei e que deveriam ser leitura obrigatória nos cursos de psicologia clínica. O último é "Psycho-Path" (psicopata ou caminho da psique). Um dos personagens é um psiquiatra infantil, genial e enlouquecido. Um dia (a revelação deste episódio menor não estragará a leitura), ele atende um menino vítima de abusos físicos, mas decidido a não denunciar os pais. O psiquiatra consegue ganhar a confiança da criança e descobre que o abusador é a mãe, enquanto o pai assiste passivo. Numa sessão milagrosa, ele tenta levar o pai a situar-se do lado do menino. Convencido de ter conseguido, manda a criança para casa sob os cuidados paternos. No dia seguinte, a mãe assassina o menino diante do pai, mais uma vez silencioso. O psiquiatra, como lhe grita na cara uma colega, condenou o menino por falta de vivissecção. Ele "esqueceu" que a raiz de sua própria loucura estava justamente na covardia de um pai que nunca soubera protegê-lo na infância. O menino foi ao matadouro porque o terapeuta quis emendar a tragédia de sua própria vida acreditando num final feliz para seu paciente.
Romanceado? Nem tanto. As apostas em muitas curas não são menos extremas.
Não estranha que os terapeutas (ao menos os psicanalistas, que conheço melhor) mostrem ao mundo, frequentemente, uma face de desoladora normalidade social. Ou que a história institucional da psicanálise se pareça com a crônica de um clube de notáveis de província, preocupados com o lugar que lhes é reservado no banquete anual. É uma compensação compreensível: o exercício de uma terapia dinâmica implica, para o terapeuta, um esforço que beira a insanidade mental e consiste em habitar os porões em que ele encontra suas verdades e, com elas, as verdades de seus pacientes.
PS: Meses atrás, uma igreja evangélica decidiu tornar-se escola de psicanálise e tentou promover no Congresso uma lei pela qual ela teria a autoridade nacional para outorgar o "título" de psicanalista. Fora o fato de psicanalista estar mais para rodapé que para título, é certo que um cristão pode perfeitamente ser psicanalista: pede-se apenas que ouse encarar sua fé como um dos demônios de sua história.
Mas uma igreja não pode ser uma instituição de ensino de psicoterapia, pois formar terapeutas é o exato contrário de propagar uma crença.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0708200318.htm




O que é ser um “bom” psicoterapeuta?

Márcia Michele de Souza; Rita Petrarca Teixeira

RESUMO
Este estudo teve por objetivo conhecer as percepções de psicoterapeutas e pacientes em psicoterapia psicanalítica acerca das características essenciais ao exercício da psicoterapia. Participaram da pesquisa cinco profissionais da área e cinco pacientes em tratamento nesta mesma abordagem teórica. O método utilizado para análise dos dados foi o qualitativo, de acordo com Bardin (1998). Os resultados apontam que o psicoterapeuta é visto como quem possui condições pessoais e técnicas que envolvem disponibilidade, capacidade de escuta e estudo teórico. Ser um bom psicoterapeuta envolve uma construção que se dá a partir de modelos de identificação, prática, estudo, supervisão e tratamento pessoal. Os pacientes percebem estas características de forma sutil, o que demonstram permanecendo em tratamento, principalmente quando o profissional lhes transmite confiança.
Palavras-chave: Psicoterapia, Características do psicoterapeuta, Formação do psicoterapeuta.

ABSTRACT
The present study has the objective of learning the perceptions of psychotherapists and patients in psychoanalytic psychotherapy about the essential characteristics in the exercise of psychotherapy. Five of these professionals and five patients in treatment in this same theoretical approach participated in this research. The method used to analyze the data was the qualitative, according to Bardin (1998). The results point out that the psychotherapist is seen as someone that possesses personal and technical conditions, which involve availability, hearing capacity and theoretical study. To be a good psychotherapist involves a construction that happens throughout models of identification, practice, study, supervision and personal treatment. The patients perceive these characteristics in a subtle way, and they demonstrate this by staying in treatment, especially when the professional transmits confidence to them.
Key words: Psychotherapy, Psychotherapist’s characteristics, Psychotherapy training.



Introdução
As psicoterapias podem ser identificadas como métodos de tratamento para os problemas emocionais. Estes métodos são utilizados por pessoas treinadas, que irão estabelecer uma relação profissional com aquele que busca ajuda, visando retirar ou modificar os sintomas que este apresenta, ou ainda prevenir que eles apareçam. Tem como propósito também, corrigir padrões disfuncionais de relacionamentos que estas pessoas construíram, bem como promover o crescimento e o desenvolvimento da personalidade (Wolberg citado por Cordioli, 1998).
 
Abreu (1997) refere que a psicoterapia alcançou uma identidade muito clara, e que são exigidos certos requisitos para que seja reconhecida como uma intervenção psicoterapêutica profissional. Este mesmo autor menciona que a psicoterapia se desenvolveu ao longo destes anos, passando por períodos iniciais de estudo que evidenciaram a efetividade dos tratamentos psicoterápicos.

Etchegoyen (1987) descreve os traços característicos que destacam a psicoterapia. Dentre estes traços estão o seu método, no qual a psicoterapia se dirige à psique através da comunicação, e o seu instrumento de comunicação, que é a linguagem verbal e a pré-verbal. Além disso, cita o marco da psicoterapia, ou seja, a relação interpessoal médico-paciente. E, finalmente, a finalidade da mesma, que é curar, pois todo o processo de comunicação que não tenha este propósito, não pode ser considerado psicoterapia.

Existem diferentes tipos de psicoterapia que variam conforme as técnicas que utilizam, às teorias que se baseiam, aos seus objetivos, a frequência das sessões e ao tempo de duração (Cordioli, 1998). Para Bloch (1999), qualquer psicoterapia tem a intenção de permitir que uma pessoa satisfaça suas necessidades de afeto e reconhecimento, bem como ajudá-la a corrigir atitudes, emoções e comportamentos desadaptativos que a impedem de obter satisfações.

Ainda para este autor, mesmo que todas psicoterapias tenham sua atenção voltada para os aspectos da vida pessoal, variam conforme sua ênfase, ou seja, são ordenadas conforme seu alvo primário, sua orientação temporal. Além disso, diferenciam-se na medida em que procuram mudar essencialmente pensamentos e atitudes, estados emocionais ou comportamentos.

Tendo em vista que este estudo visa verificar as características necessárias para ser um bom psicoterapeuta de orientação psicanalítica, serão apontados os conceitos de psicoterapia relacionados à teoria psicanalítica.

Conforme Goldstein (citado por Cordioli, 1998), na psicoterapia psicanalítica o paciente é orientado a expressar seus pensamentos, sentimentos, fantasias e sonhos, livremente, bem como as associações que lhe ocorrerem. No entanto, um pouco diferente do método psicanalítico, as associações livres do paciente são dirigidas pelo psicoterapeuta para questões-chave da terapia. Não há utilização do divã, as sessões são menos frequentes, há menos regressão e a transferência não se desenvolve com a mesma intensidade que na psicanálise.

Segundo Pessanha (2000), o bom desempenho na profissão de psicoterapeutas exige destes profissionais qualidades definidas e específicas, e esta “vocação” deve estar alicerçada em conhecimento e exercida com talento.

Abreu (1997) salienta que a pessoa do psicoterapeuta compõe uma importante variável que intermedia mudanças, sem depender tanto de uma determinada teoria ou de uma técnica específica. Por isso, a importância do psicoterapeuta tem sido mais estudada.

Uma vez que a formação do psicoterapeuta de orientação psicanalítica está muita próxima daquela exigida pela psicanálise, algumas variáveis tidas como obrigatórias para o psicanalista serão também necessárias ao psicoterapeuta.

A identidade de um analista é definida por um conjunto de conhecimentos e pelo desenvolvimento de vários atributos pessoais. Estes conhecimentos são adquiridos e desenvolvidos através do tratamento pessoal, da própria prática clínica, da realização de cursos teóricos e seminários clínicos, de supervisões e reuniões científicas, como refere Leviski (citado por Outeiral, 1995).

O mesmo autor menciona que na construção da identidade profissional, erros, ansiedades, angústias é dúvidas são uma constante neste processo evolutivo até que se alcance uma relativa tranqüilidade interna. Aos poucos vai se descobrindo a gratificação e o sabor do que pode ser considerado um “certo dom”.

Como precursor da psicanálise, Freud (1912/1980) já apontava questões relacionadas às qualidades necessárias ao analista para que este exerça sua profissão. Inicialmente descreve a técnica que alcançou através de sua própria experiência. Para este autor, o analista se defronta com a árdua tarefa de se lembrar de inúmeros nomes, datas e conteúdos de cada paciente no decurso de seus tratamentos, por isso aponta a técnica como forma de solucionar este problema. Cita que a mesma, consiste em não se fixar em algo específico no relato do paciente, mas sim em manter uma atenção uniformemente suspensa. Utilizando-se desta, o analista poupa seu esforço, pois caso contrário, se houver a concentração exagerada da atenção, haverá a seleção do material que lhe é apresentado. Ao fazer esta seleção, o analista estará seguindo suas expectativas ou inclinações, o que lhe impediria de descobrir além do que já sabe.

Para este mesmo autor, para que a análise tenha eficácia, é necessário que o analista volte seu próprio inconsciente, como um órgão receptor, na direção do inconsciente do paciente (órgão transmissor). Assim como o paciente relata tudo o que sua auto-observação possa detectar, sem fazer seleções de conteúdos, o analista deve fazer uso de tudo que lhe é dito para fins de interpretação e identificar o material inconsciente oculto, não fazendo seleções. Para que isto ocorra o analista deverá utilizar o próprio inconsciente como instrumento de análise.

Segundo Zimerman (1999) preparar-se teórica e tecnicamente não é suficiente para a eficácia de uma análise, pois mais do que esta necessária bagagem de conhecimentos (seminários, estudos continuados) e de uma competente habilidade (resultante de supervisões), o psicanalista precisa ter uma atitude psicanalítica que é composta pelos atributos naturais e os desenvolvidos pela análise pessoal. Esta última consiste em o analista possuir as condições mínimas necessárias, postuladas por Bion (1992), para enfrentar as angústias e os imprevistos que podem ocorrer durante a análise, provindos do inconsciente do paciente e do próprio analista.

Rocha (1995) aponta que para alguém se tornar um psicanalista, é necessário que antes tenha sido paciente. Com isso, pode-se inferir que a formação do psicanalista não se dá por uma vocação e, sim, por um processo de construção.

Ainda sobre a importância da análise pessoal, Pessanha (2000) refere que os psicoterapeutas preparados pelo método psicanalítico, devem submeter-se a mesma, pois através desta podem reconhecer e superar seus próprios problemas. Além disso, este trabalho confere ao profissional autoconhecimento indispensável para poder ver em seus pacientes aquilo que vê em si mesmo.

Leviski (citado por Outeiral, 1995) refere que quanto mais profunda tenha sido a análise pessoal, maiores serão as possibilidades do analista compreender os conteúdos mais remotos da mente do seu paciente. No entanto, para que isto ocorra, é necessário que este profissional tenha entrado em contato e elaborado os seus conteúdos conflituosos, pois se estes não forem resolvidos podem ser projetados inconscientemente sobre o paciente.

Segundo Grinberg (1975), é aconselhável a análise pessoal periodicamente, sendo que o psicoterapeuta precisa tolerar uma sobrecarga imensa nas suas atividades. Mas, além da análise pessoal é necessário possuir outros requisitos, tais como: conhecimento, intuição, talento e empatia.

Levisky (citado por Outeiral, 1995) coloca outros atributos desejáveis ao psicanalista. Dentre estes estão a curiosidade em relação às coisas e aos mistérios da mente, bem como o interesse, a necessidade e a sensibilidade em ir ao encontro do sofrimento psíquico do paciente.

Zimerman (1995) baseado nas idéias de Bion descreve que as condições mínimas necessárias para uma análise eficaz são representadas por uma série de atributos do analista, e entre estes está a identidade analítica. A identidade analítica implica a capacidade que o analista tem de se manter basicamente o mesmo, apesar das pressões provindas de fora e de dentro dele.

Rocha (1995) menciona que neutralidade é uma suspensão dos valores morais do analista face à problemática do paciente. Sendo assim, o termo neutralidade é considerado uma afirmação de que o paciente não deve ser julgado pelo psicanalista, a partir de atributos ou de valores morais deste último, tendo em vista que o propósito da psicanálise não é voltado para a conduta ou o comportamento moral.

Para Pessanha (2000) o psicoterapeuta deve ter paciência e tolerância, pois os benefícios de uma psicoterapia surgem após longo tempo de convívio e dependem muito do interesse do paciente. Para este autor os profissionais precisam ter capacidade para amar e suportar as agressões e os fracassos decorrentes do tratamento. O autor cita ainda, que o psicoterapeuta é alguém capaz de se dedicar ao paciente sem preocupar-se consigo mesmo, ou seja, sem desejos nos resultados.

Goulart (2003) aponta a importância da criatividade mesclada com a técnica na prática psicanalítica. A verdade emerge entre o analista e o paciente, sendo que no momento em que ocorre a compreensão se produz uma mudança em ambos. Para que esta verdade possa aparecer, é necessário que a dupla tolere suas ignorâncias, abandone o supostamente já sabido e as pré-concepções, o que foi chamado de capacidade negativa.

O mesmo autor salienta que quando a criatividade surge no setting, é preciso que o analista faça uso da mesma, orientando suas interpretações com intuição e empatia, mas sem distanciar-se da técnica que lhe dá segurança. Reforça esta idéia referindo que uma sólida base teórica e técnica introjetadas, juntamente com uma análise pessoal bem sucedida, são pré requisitos na busca deste equilíbrio.

Zimerman (1995) também se refere à capacidade negativa como possibilidade do analista conviver com as incertezas e dúvidas na experiência da situação analítica. Derivado do atributo de capacidade negativa, Bion (2000) enfatiza que no transcurso da sessão analítica, o analista deve permanecer em uma condição a qual denominou de sem memória, sem desejo e sem compreensão. Esta condição tem como finalidade que a mente do analista não fique saturada com a memória, os desejos e a necessidade de compreensão imediata, para que os órgãos dos sentidos não predominem, possibilitando assim emergir a capacidade de intuição do analista.

Seguindo a mesma premissa de Bion, Dallaroza (2001) expõe que se o profissional não puder tolerar o “não saber”, poderá usar da interpretação apenas para preencher espaços vazios, confabulando sobre o material incompreensível. Para que isto não ocorra, é necessária uma modificação na atitude interna do psicoterapeuta, ou seja, este deve privar-se dos órgãos dos sentidos, aumentando suas possibilidades de intuição.

De acordo com Dallaroza (2001) a intuição é uma antecipação e um reconhecimento dos sentimentos que vão ocorrer no paciente. É a capacidade do terapeuta de ligar-se em fatos que não podem ser captados pelos órgãos dos sentidos. É a intuição que possibilita chegar à aproximação das verdades incognoscíveis.

Conforme Bion (1992) a empatia é uma característica essencial sendo esta a capacidade que o psicanalista deve ter de se colocar no papel do paciente, entrar dentro dele e sentir junto dele o seu sofrimento. A empatia é resultante da capacidade do analista de poder utilizar as fortes cargas das identificações projetivas, como uma forma de comunicação primitiva do paciente. Destaca, também, a capacidade de ser continente, possuindo as condições de acolher as necessidades e as angústias do paciente, contendo-as dentro de si o tempo suficiente para decodificá-las e entendê-las, reconhecendo um significado e um nome para então devolvê-las ao paciente desintoxicadas e em forma de interpretação.

A pessoa do psicoterapeuta é considerada por Wolberg (citado por Cardoso, 1985) a variável mais importante no processo terapêutico, pois sua personalidade e experiência atuam sobre os resultados. O terapeuta eficiente tem qualidades que transmitem ao paciente confiança, esperança, vontade e liberdade para responder.

Além disso, para Wolberg (citado por Cardoso, 1985), o psicoterapeuta deve ser possuidor de uma compreensão empática e de confiança naquilo que faz.

Fromm Reichmann (citado por Cardoso, 1985), resume os requisitos básicos que compõem a personalidade e aptidões pessoais do psicoterapeuta, mencionando que o psicanalista é alguém que deve saber escutar. A escuta que a autora se refere, é considerada por ela como uma arte que não se adquire sem a formação adequada que envolve autoconhecimento, estudo, prática e especialmente vida pessoal que contenha fontes de satisfação e segurança, para que o profissional não venha a usar o seu paciente como fonte de gratificações.
 
Método
Identificar as percepções de psicoterapeutas e pacientes acerca das características necessárias para ser um bom psicoterapeuta foi o problema proposto por este estudo. Em torno dele algumas questões norteadoras serviram para ampliar o conhecimento acerca da temática, sendo as seguintes:

Quais as características que os profissionais percebem como essenciais para a formação do psicoterapeuta?

Quais as características que profissionais e pacientes percebem como sendo essenciais para o psicoterapeuta ser um bom profissional?

As características são inatas ou adquiridas pela formação?

Profissionais e pacientes concordam acerca das características tidas como necessárias para ser um bom psicoterapeuta?

Tomando a complexidade do objeto de estudo definido anteriormente, o estudo teve como método de pesquisa, o qualitativo, sendo que as verbalizações dos sujeitos foram analisadas a partir da análise de conteúdo sugerida por Bardin (1988). As descrições das verbalizações foram agrupadas em unidades de sentido, sendo estas reescritas em sínteses que formaram as categorias a posteriori.

Participaram do estudo cinco psicoterapeutas de orientação psicanalítica (Grupo 1) e cinco pacientes desta mesma abordagem psicoterápica (Grupo 2). Cabe salientar que os integrantes do Grupo 2 não foram pacientes dos profissionais que compõem o Grupo 1.
 
 
Os psicoterapeutas entrevistados têm formação reconhecida pelos pares e os pacientes estão em tratamento há, no mínimo, 6 meses, com frequência mínima semanal. Ambos os grupos foram contatados a partir dos critérios de indicação e acessibilidade.

O instrumento utilizado foi uma entrevista semi-estruturada específica para cada grupo. O roteiro utilizado para o Grupo 1 continha questões como ser psicoterapeuta, características necessárias para o profissional, modelos de identificação e sobre a relação com o paciente. O roteiro de entrevista utilizado com o Grupo 2 continha questões acerca do que seja psicoterapia, sobre as características importantes do psicoterapeuta e sobre a escolha em fazer psicoterapia.
 
 
Devido a questões éticas, os sujeitos participantes do estudo receberam em duas vias, termo de consentimento livre e esclarecido, anterior ao início da entrevista, os quais assinaram.
 
Apresentação dos resultados
Através da análise de conteúdo, foi possível dividir as entrevistas em quatro categorias e quatro subcategorias, especificadas abaixo.
Categoria 1 – Ser psicoterapeuta
1.1 – Ser psicoterapeuta na percepção do próprio psicoterapeuta
1.2 – Ser psicoterapeuta na percepção do paciente
Categoria 2 – Características de um bom psicoterapeuta
2.1 – Características de um bom psicoterapeuta na percepção do próprio psicoterapeuta
2.2 – Características de um bom psicoterapeuta na percepção do paciente
Categoria 3 – Características inatas e construídas
Categoria 4 – A percepção dos psicoterapeutas acerca do que pensam os seus pacientes
Os profissionais depoentes foram identificados por T1, T2, T3, T4, T5 e os pacientes entrevistados por P6, P7, P8, P9 e P10.
 
Discussão dos resultados
O Grupo 1 define ser psicoterapeuta (subcategoria 1.1) como um profissional que se coloca em uma posição de ajuda, pois se dispõe a entender os processos psíquicos de uma pessoa para que assim possam pensar juntos (terapeuta/paciente) e transformar algumas coisas na vida desta pessoa que procura a ajuda. Sendo assim, o psicoterapeuta permite que o outro possa construir sua própria história. Para isso, é necessário que este profissional possua condições tanto pessoais como técnicas para exercer satisfatoriamente este papel. Além disso, é mencionado que o psicoterapeuta necessita estar disposto a receber coisas novas e ser alguém que goste e tenha um perfil para lidar com seres humanos, o que é percebido como algo delicado, necessitando, portanto, de muito estudo e treino.

Um dos principais aspectos apontados pela bibliografia é a capacidade de escuta que o profissional deve ter. Tal capacidade de escuta é referida pelos profissionais como algo essencial no exercício da psicoterapia e está relacionada com a técnica do psicoterapeuta, por isso deve sempre estar sendo aperfeiçoada através do estudo, da prática e do próprio tratamento pessoal. Tal achado reforça a idéia de Fromm Reichmann (citado por Cardoso, 1985) que considera a escuta como uma arte que não se adquire sem um treinamento especial. Menciona que dentre outros fatores, o autoconhecimento proporciona ao psicoterapeuta a possibilidade de escutar, fator observado também nas opiniões dos entrevistados (subcategoria 2.1).

Já o que é ser psicoterapeuta para os pacientes (subcategoria 1.2) encontra-se a percepção da necessidade do profissional estudar muito e, além disso ser alguém que possua capacidade para lidar com o ser humano. Através das verbalizações dos pacientes, é possível inferir que esta capacidade de lidar com pessoas é muitas vezes percebida pelos pacientes como um “dom”, contudo Bucher (1989) referiu que o interesse pelo ser humano é a primeira característica essencial do psicoterapeuta. Este profissional deve possuir interesse em aprofundar-se no funcionamento dinâmico e dialético do ser humano.

Pode-se observar que os conceitos oferecidos pelos pacientes não diferem muito dos mesmos dados pelos profissionais entrevistados, o que sugere que a percepção dos pacientes tem ligação com o que os psicoterapeutas pensam sobre si mesmos. Pode-se inferir que os psicoterapeutas transmitem para seus pacientes estas mesmas percepções sobre a identidade de ser psicoterapeuta. Além disso, o psicoterapeuta é visto pelos pacientes como alguém que se pode contar em todos os momentos, sendo muitas vezes idealizado, principalmente no início da psicoterapia.

Segundo Pessanha (2000) o bom desempenho na profissão de psicoterapeuta exige destes profissionais qualidades definidas e específicas. A idealização do paciente pelo psicoterapeuta pode estar ligada à percepção destes profissionais sobre estas qualidades. As atribuições exigidas para o exercício da psicoterapia tais como capacidade de escuta, disponibilidade de ajuda, muito treino e estudo, possivelmente estão relacionadas a esta idealização, pois o psicoterapeuta pode sentir-se e ser, realmente, visto como alguém que se encontra disponível para ajudar a qualquer momento. Também pode ser percebido como “grandioso” e possuidor de um poder de cura e soluções mágicas.

Conforme relato dos profissionais, pode-se observar uma série de características percebidas pelos mesmos como essenciais para o psicoterapeuta (subcategoria 2.1), já referidas pela literatura psicanalítica. Isto se evidencia nas verbalizações dos profissionais acerca de diversos atributos que os profissionais devem possuir, citados por Zimerman (1995) e Bion (1992). Dentre estes, referem como principal a capacidade de continência, seguida pela necessidade de entrar no setting sem expectativas prontas em relação ao paciente, sem algo arquitetado e sem uma necessidade de compreensão imediata.

Ainda acerca da subcategoria 2.1 foi possível identificar similaridades nas opiniões dos profissionais entrevistados, pois todos consideram o tratamento pessoal e a supervisão como fundamentais para a formação do psicoterapeuta. A análise pessoal é vista como um dos aspectos primordiais para se tornar um bom psicoterapeuta, visto que os profissionais consideram extremamente necessário o autoconhecimento para o exercício desta profissão. E a supervisão é vista como essencial no processo de construção da identidade do psicoterapeuta.
Em relação à questão do tratamento pessoal pode-se inferir que as percepções dos profissionais condizem com o que é visto na teoria na qual os autores referem que supervisão constante e o estudo da teoria e da técnica são fatores muito importantes, mas destacam o tratamento pessoal como um fator determinante neste processo de formação. Este aspecto encontra-se reforçado pelo exposto por Zimerman (1999) acerca da atitude psicanalítica composta pelos atributos naturais e pelos desenvolvidos na a análise pessoal.

Os profissionais referem que para entender o paciente, e ajudá-lo, é necessário que possam se conhecer. Mencionam ainda que através do tratamento pessoal, o psicoterapeuta tem mais possibilidades de entendimento em relação ao paciente, bem como menos probabilidade de se misturar com as questões do mesmo, fato mencionado por Freud em 1912. Além disso, a questão do tratamento pessoal é vista pelos profissionais como constituinte da ética profissional. Se é transmitido para o paciente a necessidade dele se conhecer, é importante que esteja claro para o psicoterapauta que esta é uma condição necessária a ele.

Outro atributo mencionado por Zimerman (1999) é o respeito, no qual o profissional deve aceitar o paciente como de fato ele é e, portanto, aceitar o que este paciente traz. Através de suas verbalizações, os profissionais mencionam que é necessário que o psicoterapeuta respeite o tempo e os desejos do paciente, devendo ainda perceber no vínculo com o paciente o que pode ser conseguido na relação terapêutica com ele.

Os profissionais entrevistados referiram ainda como atributos a necessidade do psicoterapeuta reconhecer seus próprios limites; saber tolerar o não saber, bem como o que pode lidar e o que não pode. Pode-se deduzir que o reconhecimento destes limites pelo psicoterapeuta está relacionado com o autoconhecimento que este adquire através de seu tratamento pessoal, fator já referido anteriormente. Através do tratamento pessoal, o psicoterapeuta poderá conhecer seu próprio inconsciente e, portanto suas limitações, o que facilitará seu exercício. Conforme Bucher (1989) o autoconhecimento proporciona ao profissional em psicoterapia uma familiarização com suas questões inconscientes, bem como uma resolução ao menos aproximativa de seus conflitos, fatores importantes em sua formação.

O Grupo 1 referiu a supervisão como o aspecto que proporciona reconhecer as questões implicadas na relação terapêutica, bem como suas limitações frente a esta relação, o que vai ao encontro com o que fora mencionado por Schlesinger (1981). Este cita como uma das principais funções da supervisão o desenvolvimento no psicoterapeuta supervisionando de uma capacidade em perceber suas dificuldades frente a seus pacientes.

Dentro da categoria 2, pode-se observar que as percepções dos pacientes, em alguns momentos, se assemelha com as dos profissionais. No entanto, em determinados aspectos os pacientes percebem o psicoterapeuta de uma forma diferenciada. Os pacientes entrevistados estão extremamente preocupados com a experiência do psicoterapeuta, em termos de estudo e especialização. Cabe destacar ainda que os pacientes não diferem tão claramente o que é ser psicoterapeuta do que acreditam ser um bom psicoterapeuta, pois repetem as mesmas características nestas diferentes questões.

Ao não diferenciarem estas características (subcategoria 2.2), pode-se inferir que os pacientes entrevistados demonstram que para o psicoterapeuta lhes transmitir credibilidade e confiança é necessário que saibam que o mesmo tem uma vasta experiência e muito estudo teórico. Sabe-se, contudo, que a teoria é algo muito importante, mas não garante por si só a formação do psicoterapeuta.

Nota-se aqui a diferença básica entre os psicoterapeutas e os pacientes sobre o que é ser um bom psicoterapeuta: para os pacientes a formação do psicoterapeuta está centrada no estudo teórico, enquanto que para os profissionais esta é apenas uma das partes que constituem esta construção.

Os pacientes entrevistados concordam em um ponto no que se refere às características do psicoterapeuta: este deste transmitir segurança e confiança, fatores especificados, anteriormente. Neste sentido, relatam que este profissional deve ser alguém sério, competente, dedicado, honesto, sincero e que se possa contar em todos os momentos.

No que se refere à categoria 3, foi possível conhecer se os psicoterapeutas percebem as características como sendo inatas ou desenvolvidas. Infere-se que grande parte dos psicoterapeutas acredita que para se tornar um bom psicoterapeuta é necessária uma construção, alicerçada por algumas características inatas que corroboram para isso. Esta construção se opera através do aperfeiçoamento teórico, supervisão e, principalmente do tratamento pessoal. Além disso, os modelos de identificação têm grande influência neste processo de aquisição dos atributos necessários ao bom psicoterapeuta. Estes modelos são os supervisores, os teóricos, enfim, pessoas significativas em seus processos de formação. Grinberg (1975) refere acerca dos supervisores, que estes podem ser internalizados como modelos na medida que demonstram ao psicoterapeuta supervisionando sua maneira de abordar o material, bem como o modo que utilizam e aplicam a teoria. Os profissionais referem ainda que existem algumas características inatas que contribuem para que se possa adquirir as demais. Dentre estas citam uma personalidade adequada, condições egóicas e, até mesmo, certa, predisposição para esta escolha profissional.

Levisky (citado por Outeiral, 1995) descreve algo muito semelhante ao que os entrevistados trouxeram em relação a esta construção da identidade do psicoterapeuta. Este autor salienta que a mesma é desenvolvida por atributos pessoais já característicos do psicoterapeuta, bem como por conhecimentos adquiridos pela análise pessoal, pela prática clínica, pela realização de cursos, seminários e supervisões.

Através da categoria 4, foi possível observar se os profissionais acreditam que seus pacientes percebem as características que lhes proporcionam a condição de bom psicoterapeuta. Conforme os psicoterapeutas é exatamente esta percepção que faz o paciente permanecer em tratamento. Mencionam ainda que esta percepção e a continuidade no tratamento se dá a partir da empatia, ou seja, o paciente sente quando está sendo compreendido pelo psicoterapeuta, o que é extremamente importante, especialmente no início do tratamento, para o estabelecimento do vínculo terapêutico. No entanto, esta percepção é sutil e nem sempre é consciente. O pensamento dos profissionais encontra eco nas palavras de Bion (1992). Conforme este autor, a capacidade empática é essencial ao psicanalista e se, ao contrário, o analista tomasse uma atitude apática, não se manteria sintonizado com o paciente, o que poderia transformar o tratamento em algo monótono ou até mesmo sem continuidade.

Possivelmente, a empatia é vista pelos profissionais como a característica mais percebida pelos pacientes. Por isso entende-se que outras características estejam interligadas, tais como a capacidade de continência. Além disso, estas duas características estão relacionadas com a análise pessoal percebida como essencial pela bibliografia pesquisada. Através do autoconhecimento e da experiência de ter sido paciente, o psicoterapeuta tem mais possibilidades de se colocar no lugar do mesmo.
 
Considerações finais
Em relação ao que é ser psicoterapeuta conclui-se que este profissional é alguém que deve estar preparado teórica e tecnicamente, e além disso, deve estar em constante aperfeiçoamento. Esta preparação é percebida como, extremamente, importante na medida em que o psicoterapeuta é um profissional que se dispõe a ocupar uma posição de ajuda frente a seus pacientes. E estando neste lugar de quem oferece esta ajuda a outras pessoas, o psicoterapeuta deve estar ciente da responsabilidade que abrange esta profissão, bem como estar preparado para lidar com o mundo interno de seus pacientes. Para tanto, é exigido deste profissional características peculiares e determinantes no exercício da psicoterapia.

Os questionamentos acerca destas características é uma preocupação antiga. Precursores da psicanálise como Freud e Bion já mencionavam os atributos referentes ao psicoterapeuta colocados também nos relatos dos profissionais entrevistados, tais como a capacidade de ser continente, a empatia e a conscientização de que é necessário realizar tratamento pessoal e supervisão. Entende-se que para ser um “bom” psicoterapeuta estes atributos devem estar internalizados e serem observados e refletidos ao longo da vida profissional.

Para os psicoterapeutas, as qualidades necessárias para ser um bom profissional podem ser desenvolvidas, desde que se tenha uma personalidade adequada, com boas condições de ego, e acima de tudo pela vontade em trabalhar com seres humanos. Ter este desejo em conhecer a dinâmica da personalidade humana, bem como os fenômenos psíquicos, é um fator determinante visto como um grande potencial para desenvolver as demais características. Estas podem ser desenvolvidas durante a construção da identidade psicoterapêutica, que se dá através de muito estudo, treino, prática, supervisão, análise pessoal.
 
Referências

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1 Márcia Michele de Souza – Acadêmica do 10º semestre do Curso de Psicologia da ULBRA Gravataí
2 Rita Petrarca Teixeira – Psicóloga. Mestre em Psicologia Clínica. Docente do Curso de Psicologia da ULBRA Gravataí